Este conteúdo foi inspirado na reportagem “Pesquisa estima aproximadamente 4 milhões de pessoas com TEA no Brasil”, publicada pelo Portal Diamante e escrita por Daniel Nóbrega, com produção de Laís Maggessi e Matheus Chuvas.
A conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem crescido nos últimos anos, mas ainda há muitos desafios em relação ao diagnóstico, ao tratamento e ao suporte para autistas e suas famílias. Um estudo recente da Genial Care aponta que cerca de 4 milhões de pessoas estão no espectro no Brasil, reforçando a necessidade de mais informações e políticas de inclusão.
Pesquisa estima aproximadamente 4 milhões de pessoas com TEA no Brasil.
Em 2007 a Organização das Nações Unidas definiu o dia 2 de abril como o dia de conscientização sobre o autismo com o objetivo de estimular a população a estudar e compreender mais sobre o assunto. No Brasil, não se sabe ao certo qual é a população de pessoas com transtorno do espectro autista, já que o IBGE só incluiu perguntas sobre pessoas autistas no ano de 2022.
A Genial Care, uma rede de cuidado de saúde atípica referência na América Latina, realizou o estudo “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, em parceria com a plataforma Tismoo.me, que apontou para uma estimativa de 4 milhões de pessoas com TEA no Brasil, após entrevistar 2.247 pessoas, baseado nos dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos que diz que 1 em cada 36 pessoas está no espectro dentro do país norte-americano.
Com o aumento da conscientização do TEA, o diagnóstico tardio tem se tornado uma realidade cada vez mais comum. Pessoas que cresceram e viveram a vida sem saber que estavam no espectro e então recebem o diagnóstico quando já adultos. É o caso de Thales Alex Mattos Soares, estudante de 19 anos que foi diagnosticado apenas em 2023 e conta que foi orientado por uma neuropsicóloga a fazer os exames.
“Nós recebemos bem a notícia e já desconfiávamos antes do diagnóstico. Quando era criança eu já tinha umas manias como chutar o chinelo, bater na parede, ficar batendo nos dedos, na escola durante o recreio eu ficava correndo sozinho e eu não era muito de fazer amigos. Mas agora eu sou um cara diferente. Depois que saí da escola, comecei a trabalhar, sair de casa e resolver meus próprios problemas, eu tenho melhorado muito socialmente e quero atrair mais amigos para perto de mim na faculdade, na igreja e no trabalho”
Disse Thales
A psicóloga Tatiane Abreu fala que o diagnóstico precoce é crucial no tratamento do autismo para permitir que o desenvolvimento facilite a adaptação e autopercepção da pessoa em crescimento. Ela destaca a importância da psicoterapia para pessoas que foram diagnosticadas com TEA.
“A psicoterapia auxilia a desenvolver recursos e habilidades que estimulam o cérebro para lidar com as limitações, lhe dando a chance de perceber o mundo com mais pertencimento. Ajuda a reconhecer e expressar as emoções que são importantes no manejo, comportamento e na interação social. Esta habilidade costuma ser um desafio para o portador de TEA, então é de extrema importância que ele seja incentivado e inserido na convivência em grupos sociais”

Tatiane Abreu afirma que o diagnóstico precoce é fundamental.
O estudo feito pela Genial Care também aponta que 1 entre 4 das pessoas que cuidam de autistas também estão no espectro autista, o que aumenta ainda mais a dificuldade na rotina de ambos. A maior dificuldade enfrentada pelas pessoas responsáveis por um autista são a insegurança com o futuro da criança e os custos para arcar com o tratamento.
Beatriz Alves é mãe de duas crianças autistas, Antonella de 6 anos e Davi que tem 4. A mais velha foi diagnosticada em 2019, quando tinha 1 ano e 9 meses e é uma autista não-verbal, condição em que a pessoa não se expressa por meio da fala e tem dificuldade em apontar aquilo que está sentindo. Já Davi, o mais novo, foi diagnosticado em 2022, ao acompanhar a mãe em uma consulta de Antonella.
“Em uma consulta de rotina da irmã, a médica reparou que ele tinha algumas características parecidas com a irmã e pediu pra avaliar ele também nas consultas futuras, de início fiquei bem surpresa pois eu achava que ele só era hiperativo mesmo. Após algumas consultas com outros profissionais, ele foi diagnosticado com autismo e hiperatividade.”
Beatriz conta que o maior obstáculo é a falta de recursos para o tratamento dos filhos, somado à demora para marcar consultas pela rede pública e a seletividade alimentar. Ela conta que precisa acompanhar Antonella à sala de aula todos os dias por falta de mediador na escola.
Segundo o estudo “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, muitos pais e, principalmente, mães se culpam pela condição dos filhos. Reflexo de um preconceito que propagava a teoria de que a falta de amor materno durante a gravidez poderia estar relacionado ao surgimento do autismo. Outro mito propagado é o de que vacinas estariam ligadas ao aumento de pessoas autistas.
Essas teorias não encontram base científica, já que o motivo que leva uma pessoa a nascer no espectro é desconhecido. O debate sobre o autismo tem ganhado muita força nos últimos anos e é fundamental quebrar esses estigmas associados ao TEA. Pessoas cuidadoras não devem ser culpabilizadas pela condição da criança, mas sim apoiadas por uma rede sólida que dê o preparo e o acolhimento para criar uma pessoa autista.
“Um diagnóstico não é uma sentença, ele é um degrau de autoconhecimento e respeito”
disse Tatiane Abreu.

